Artes Visuais

A arte que ultrapassa as fronteiras linguísticas

Jéssica Porciuncula e Charles Gilbert apresentam na exposição Trânsitos Excêntricos resultados do segundo ciclo de residência artística promovida pelo Malg/UFPel

Carlos Queiroz - DP - Trabalho, desenvolvido de forma virtual, pelos dois artistas surgiu a partir de jogos e desafios

A exposição Trânsitos Excêntricos ganhou neste mês obras que os artistas Charles Gilbert, do Canadá, e Jéssica Porciuncula, de Pelotas, criaram durante o segundo ciclo de residência artística, proporcionada pelo Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Malg/UFPel). O trabalho em conjunto resulta de projeto realizado pela Sociedade Amigos do Museu de Arte Leopoldo Gotuzzo (Samalg), em parceria com o Laboratório de Curadoria do Malg (LACMalg) e com a Academia de Curadoria da Universidade de Brasília (UnB). O projeto tem financiamento do Pró-Cultura RS FAC – Fundo de Apoio à Cultura do Estado do Rio Grande do Sul.

Aprovado no ano passado, o edital proposto pelo projeto previa a participação de quatro artistas na residência: um nome nacional e outros representando Pelotas e o Estado, além de alguém de fora do Brasil. O trabalho, desenvolvido de forma híbrida, com dois artistas presencialmente e outros dois de forma virtual, teve como temática a Imigração. 

Segundo a curadoria, o fluxo de pessoas é um assunto que flui naturalmente no acervo do Malg, constituído a partir da doação de Leopoldo Gotuzzo, um migrante, que morou em diferentes continentes. Na primeira etapa integraram o projeto, Elias Maroso (regional), Helô Sanvoy (nacional).

Aos trabalhos destes artistas, juntam-se à exposição três obras criadas por Charles Guilbert e Jessica Porciuncula. A parceria se iniciou em abril deste ano e, a partir dela, os visitantes apresentaram as propostas: Os desenhos dos mil títulos, O jogo das epifanias e um vídeo que faz um relato poético de todas as conversas e trocas entre os artistas. 

Experiência inédita

A experiência inédita para Gilbert e Jéssica fez com que eles começassem a parceria utilizando o espanhol como língua oficial deste encontro. Com 39 anos de carreira artística, Gilbert ainda não tinha trabalhado com um artista que não falasse a sua língua, o francês. 

Gilbert, que tinha conhecimento de espanhol e não sabia nada de português, hoje consegue entender a língua dos brasileiros, apesar de não se arriscar na fala. Por sua vez, Jéssica, com dez anos de trajetória, também se abriu ao novo. A comunicação entre os dois foi feita virtualmente, ela em Pelotas e ele do Canadá, e começou a partir da linguagem não-verbal dos desenhos e dos jogos.  “O jogo nos dava uma constância de diálogo, porque um joga e outro joga. Era uma forma de se conhecer”, conta a artista.

Jéssica lembra que de início propôs um jogo de xadrez, mas Gilbert não gostou e contrapôs com a ideia de inventarem algo. “Só que aí a gente não parou mais de inventar jogos”, relembra a artista.

Os artistas relatam que a partir dos jogos e desafios eles passaram a se conhecer melhor, surgindo muitas afinidades entre os dois. “Como artistas somos muito parecidos, trabalhos com desenho, performance, vídeo, música, porque há canções também. É como experimentar a fragilidade e ao mesmo tempo dos limites das fronteiras”, fala Gilbert.

 “Para a gente os jogos e os desenhos viraram uma quarta língua para além do espanhol, do francês ou do português. A gente começou a perceber que era muito parecido apesar de estar muito distantes e de ter origens completamente distintas”, diz a pelotense. 

Mil títulos

 Em um desses jogos um enviava um desenho e o outro dava o título, o que acabou resultando na obra Os desenhos dos mil títulos, na qual estão expostos dois desenhos, um de cada artista, lado a lado, e junto estão disponibilizados mil cartõezinhos e cada visitante é convidado e nomear as obras. 

O objetivo é de fato recolher mil títulos, para isto houve conversas com algumas escolas para que os estudantes que visitem o local participem, por exemplo. Com esta coleta, que eles só vão escrutinar ao final da mostra, deve surgir um novo trabalho em parceria. 

Num outro momento desse encontro foram propostos desafios ou performances, como por exemplo, oferecer água a um desconhecido. “Era uma ideia de movimento era também ir pela rua e encontrar outras pessoas”, relembra Gilbert. Essa brincadeira resultou na obra O jogo das epifanias. 

Nesta proposta a dupla entrega ao visitante postais com mais de 50 frases diferentes, um material que pode ser levado para casa. “É difícil encontrar ações que se repitam, ao mesmo tempo é interessante ver como são potentes as possibilidades de pequenas ações poéticas no dia a dia”, diz Jéssica. 

Junto com o vídeo, produzido mais recentemente, quando Gilbert pôde vir ao Brasil, tem duração de 15 minutos. Junto a ele está uma instalação em que se vê uma jarra com água e dois copos. Esta é literalmente a materialização de um sonho de Jéssica. Poucos dias antes da abertura da exposição, a artista sonhou com a proposta e a dupla resolveu acrescentar essa inspiração à obra. “Descobrimos que não é a minha obra, nem a dela, é como outro mundo, um mundo que inventamos com outros motivos”, diz Gilbert.


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